domingo, 26 de dezembro de 2010

Monólogo - À moda antiga -

Querida.

Queria dar-te todas as flores, todos os amores e as mais de mil rimas quais desdenham os insensíveis: “Poeta que rima flor com amor não se leva a sério, é um pavor” – Eles dizem ao sorrir zombeteiros - Portanto minha flor, exposto ao escárnio não espere de mim fartas palavras de cunho emocional. Poupe-me de conotá-las com o amor, pois seria o teu fim, o meu fim.

Além do mais preciso atualizar-me e ser o outro lado da moeda destes sujeitos descolados: Quem sabe um poeta visionário a levar-te em caudas de cometas e a fazer-te presente as estrelas, os sóis e as luas?
Ah sim! Pouco importaria que elas estejam em estado decrépito ou em fase minguante.

Evidente, elas são partes de um complexo quebra-cabeça num universo quântico habitado por poesia eclipsada e versos fosforescentes, preferencialmente em escalas de azul, cinza e lilás. Contudo, se é assim que me querem....assim me terão – Fantasioso -
Portanto meu amor não pense mais nisso e deixemos estas tolas bobagens de que trata o amor. Não falemos dos simbolismos e nem das flores.
Versemos, por exemplo, sobre os fenômenos que ocorrem no universo; parecem-me tão interessantes.

Veja, meu bem. Se faz importante sermos iguais a estes poetas e não perdermos as caudas dos cometas que nos levarão muito além dos pífios saberes e o parco de nossas sensibilidades. Contudo, lá chegando uma coisa eu prometo; longe das discriminações petulantes e da arrogância dos olhos que nos querem frios eu sorrirei ao mostrar-te o melhor dos meus truques; Do negro vazio de uma cartola farei surgir as mais lindas rosas vermelhas, e as te ofertarei; Flores para uma dama, como jamais deveria deixar de ser.

E então sorrirás e teus olhos cintilarão umedecidos. E eu, feliz como criança que ganha a primeira bicicleta espelhar-me-ei no motim das tuas lágrimas e te exalarei juntamente com o aroma do buquê de flores.

“Eu te amo minha flor! Serás para sempre o meu inesquecível e eterno amor” – Confessarei antes de quedar-me ao escárnio dos poetas e da poesia mor.

E esse aroma de sentimento inigualável, tragado e expelido por meus lábios num rápido sussurro se traduzirá em sentença de morte da minha fração poeta e de uma poesia tosca e desqualificada.


Copirraiti Dez2010
Véio China©

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