terça-feira, 28 de setembro de 2010

Fênix




Voe
Pássaro da nostalgia
Voe e liberte desse peito
Os enegrecidos acordes
Do mais obscuro desencanto

Voe
Pássaro da agonia
Até fundir-se ao pesar das nuvens
Cicatrizar cinzas feridas
Das fendas que não curei

Voe
Pássaro da alforria
E rase num mergulho insano
Malogrando o pranto convulsivo
Dessa tristeza em que vivo
E não me desfaço

domingo, 19 de setembro de 2010

O furto da poesia

- Ah, és tão insensível! Jamais serás como os poetas!
 Disse-me susceptível, onde gotículas de cristais arraigavam seu olhar
E eu, apenas malicioso flertava com o seu estupendo par de coxas
Que se escondia sob o puro linho dum majestoso vestido negro

-Não, não sou e jamais serei poesia - Respondi com olhos de cascaveis-
Ser poeta era fazer magias, era iludir com truques,
E isso eu jamais faria; não sabia mentir
Justifiquei tentando roubar-lhe um beijo como se fosse ao acaso

- Então terás que mentir por mim! Ou  perder-me-a agora! - Exclamou decidida –
 Estranhei- Ela estava tão distante -
O tempo estancou quando cravei os seus olhos reluzindo verdades;
Igualmente a mim, ela também não sabia fingir

Lancei-me no espaço com fúria e desespero
Procurava palavras, vasculhava sentimentos, os meus ou quaisquer outros
- Não vou perder-te com palavras e nem para borboletas de vidro - Arrisquei
Porém, travei; não havia poesia ali, e sem poesia era impossível continuar.

-Pare, baby! Sei que tentarás por toda uma vida, mas sei que não será agora!
-O que dizes é pouco, tentas ser poeta,mas não dizes o que preciso; poesia!
Replicou secando lágrimas despencadas sob o negrume dum céu desestrelado
E assim foi e assim a perdi, privava-me do amor, não era mágico e nem poeta

E há muito ela partiu.

E hoje, varado mas madrugadas afligem-me as profundas olheiras
Que adormecem melancólicas e somente quando se faz alto o sol
Pois além da insônia acompanha-me também a nostálgica quimera:
De ser-lhe-a poesia que necessita, aquela da noite que  me furtou.
,
Ah! Apenas dilacerar-me não poderia gerar poesia? - Questiono -
Olho-me para dentro e dói , dor dura que não extrai qualquer linha
Ainda penso em frases e recordo-me daquela; a borboleta de vidro
Que persiste revoando minha mente, reluzente, colorida, sem poesia

sábado, 18 de setembro de 2010

Laceração

O chicote estala em minha imaginação
Na ponta
algo perfurante e metálico
Penetra-me as carnes, revolve entranhas
E toca-me quase a sombra da alma.
Há algo que possa me fazer sorrir?

Rios transformados em desertos
Lágrimas convertidas ao pó
Nuvens empoeiradas despencando dos olhos:
Ouro, amores,  dissabores
Virgens, puritanas, santas devassas
Há alguém que possa me fazer feliz?


Parido de ato lascivo
Feto gestado em nascente límpida e casta
Hoje não me há credo ou devoção a sei la o que
Não há anjo ou diabo que resida em mim
Se foi o deslumbre e o lirismo do homem das negridões
E o lamento de um sorver vida que aos poucos se esvai

Haverá outra vida para ser vivida?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Obsessão

Na festa
Dentro dum smoking
De fino trato
[óbvio, alugado]
Fez-me provar todo descaso
Dos teus rudes olhos negros

Que, altivos e voluntários
Avaliam a minha presença
Como de  reles convidado
Lembrado às últimas horas
E provavelmente
No fortuito acaso

E para mim
[sim, o teu bibelô palhaço]
Diante do escárnio deste riso diabo
Nada mais me resta a não ser
Relembrar-te as luxúrias devassas
E os murmúrios do felino orgasmo

E eu, agora o tolo fã ensandecido
Aplaudo-te no dolo dos pecados
Sem resgatar-me dos retalhos
Da ilusão de um passado
O qual percebo agora
Cruelmente apagado