quinta-feira, 3 de maio de 2012

A varanda

Neste céu salpicado de estrelas
Os astros brilham duma forma que jamais vi
Aqui no campo não há a algazarra dos motores,
Ou pessoas amedrontadas no apartamento ao lado
Aqui  a natureza  fecunda e gera odores e  sons
Cheiros que jamais se misturarão à nefasta poluição
Ou ao tabagismo crônico da minha insone estupidez

E eu apenas olho, sinto e me apego na escuridão
Numa noite que me oferta mais que os faróis dos carros
Ou as luzes de emergência das saídas de cinemas
Mas sim o murmúrio das copas que me brindam
Com as pequenas luzes de sensíveis vaga-lumes
Que cintilam  sagradas, verdes, candentes
Como se fossem pisca-pisca numa árvore de natal .

E é nessa calmaria entrecortada pelas preces dos grilos
E todos os tons duma primaveril atmosfera
Que inspiro o cheiro da terra molhada, do mato orvalhado
Absorvendo todos  odores que se fundem ao ar, gélido
E se misturam e impregnam-se nas minhas narinas,
Corando-me as faces, afetando-me na sanidade dos pulmões
Miseravelmente tão afeitos à degradação da grande cidade

Assim, ajeito-me numa cadeira de balanço da varanda
E sem pensar em nada que não seja o vaivém do movimento
Trago um, dois, quase meio maço de cigarros
Num ato injusto de macular a perfeição que me acerca
Atitude horrenda e espúria que faz perpetuar em mim
A crua  natureza da humana insensibilidade
Diante das coisas de Deus e de tão bucólicas paisagens



Copirraiti 02Mai2012
Edu Pavani

*Adaptado de parte do conto "Marcela, eu, e um dia na roça"
Para Marselha.

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