terça-feira, 5 de junho de 2012

Let It Be

Tudo soou tão estranho
E o "fora" pareceu agravar a situação
Agora em cantos opostos eu olhava pra ela,
pros longos e azulados cabelos dela,
e eles bailavam nas curvas da cintura
como nada houvesse acontecido, ninguém ferido
Por um minuto pensei, aliás, eu não, o amor próprio:
Que não era necessário alguém me convencer
que eu era o garoto mais maneiro do lugar
O que poderia ter visto naquele loirinho magro
de pernas tortas enfiadas na justa calça Lee?
Algumas garotas passaram e uma delas olhou interessada
E era bonita, se insinuava, mas eu não as notava
A vontade apenas de ficar ali no canto, parado
num rosto fosforescido nas luzes negras
 a olhar os azulados cabelos que dançavam
no compasso da música que se iniciava
E a voz ecoou nas potentes caixas de som,
doce, apaixonada, e de alguém que conhecíamos,
doçura que não suavizava o gosto amargo da minha boca,
o momento ou os sentimentos que eu experimentava
Let It Be... Let It Be
Foi a primeira vez que ouvi aquela canção dos Beatles 
Deixe assim... deixe estar, pedia Paul
num baile que prosseguiu, isqueiro, cigarros e um rapa pra cuba
O que mais poderia fazer a não ser estar ali e destroçado?
Foi então que bebi o que doeu ouvindo os heróis da minha geração,
reis sufocados de fama, de grana,  de gritos e obsessões
Garotos que quase nada sabiam a não ser cantarem para um mundo,
que queriam livre, para eles, para mim, e uma recente juventude 
que nem tão jovem era

Copirráiti jul/2008
Véio China®

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