sábado, 21 de abril de 2012

Pétalas de outono

Por que há tantas pedras em minhas mãos?
Talvez porque aja em mim o covarde confinado
Fracasso degustado em fogo brando
Temperado de angústias e madrugadas
Então saibas poltrão! Queiras mais,
Sejas mais que o fatigado sabor aveludado
Das belas e melancólicas pétalas de outono

E por que essas pedras pranteiam em minhas mãos?
Lacrimejam pois não há o meu desejo de aniquilá-las
Senão apenas a solitude dum esforço pérfido
De proteger-me do que restou junto a nave mãe,
Numa desastrada tentativa de rever-se enganos   
Traços vitais de todas inverdades e crenças abarcadas
Afinal, poucas verdades jamais saciam os mentirosos

Porém a pergunta insiste e nunca cala:
Até onde renegarei a legitimidade daquilo que em mim não se opera?
Não sei e jamais saberei! Sou o frio, calor, broto de flor, sou folha seca
Me visto na morbidez e a intempérie que açoita as quatro estações
Insensível e inequívoco engano que não ousa como o sonho do palhaço
Um anarquico logrando a vida naquilo que ela me dá de mais ordinário
Sou simplesmente um nada, ínfimo, menos que coisa qualquer

Enfim, o que há de humano e de desesperador agora lateja aqui
Nesse desacerto, nesta estrela ofuscada num céu de breu,
Nesse tolo intérprete de cansados scripts mitigados 
Um farsante que sem o julgo se decreta na própria sentença
Da ambigüidade consumida nos três cantos da consciência
Enfim, sou água contaminada que jamais perfura pedra dura

E esses talvez são os motivos delas criarem afetos em minhas mãos
Sensações amargas que se distanciam das pétalas do outono que quis
Pois o que acaricio são somente pedras, frias, rijas, insensíveis
Pedras que um dia serão lançadas a penitencia que me proponho
De chegar o momento de refletir-me num cálido sorriso de criança
E nele abominar-me o espelhado e as tantas hipocrisias impostas
Nos dolorosos contornos escolhidos e na falsas fendas que murgulhei

Véio China ©
21/04/2012

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ao pé da serra

É amor
E é tão forte
Que sobreviveu aos meus tolos desenganos
Ludibriando raposas astutas
E o insano gargalho de noturnas hienas

É amor
Um amor tão pujante e puro
Que penso, só desistará de mim ou de você
Quando em um de nós não mais houver o sopro

É amor, definitivamente é amor
Um amor tão límpido, tão lindo
Que peço-lhe, se a ordem cronológica vingar
Guarde-me em pequena caixa de madeira de Lei

Pois há em nós o sentimento perfeito
Que  unirá e nos tornará apenas pó
Negras cinzas que num melancolico lamento
Serão levadas pelos sabores do vento

E quando a magia do momento chegar
A poeira lançada afagará a singeleza verde
Um brinde à cumplicidade fértil do solo mineiro
Ante o olhar complacente da Serra do Paraíso

Eduardo Pavani
11/05/2012